A forma como as marcas constroem e mantêm a sua reputação está a ser profundamente alterada pela inteligência artificial generativa. Modelos como o ChatGPT deixaram de ser apenas assistentes conversacionais para se tornarem filtros de confiança e motores de descoberta, influenciando diretamente a percepção pública sobre empresas, produtos e líderes. Com mais de 190 milhões de utilizadores diários e cerca de 2 mil milhões de interações por dia, estas ferramentas estão a substituir os motores de busca tradicionais como principal ponto de contacto entre consumidores e marcas.
Este novo paradigma redefine o conceito de visibilidade digital. Já não basta aparecer nos primeiros resultados do Google ou dominar as redes sociais: o que a IA diz sobre uma marca tornou-se um indicador reputacional decisivo. As respostas geradas por modelos de linguagem são construídas a partir de milhões de fontes — notícias, redes sociais, conteúdos corporativos e avaliações de terceiros — e funcionam como sínteses credíveis que moldam a primeira impressão do público. A reputação digital passa a depender menos da quantidade de conteúdo e mais da sua coerência semântica e atualidade. Quando a IA não encontra dados recentes, recorre a fontes antigas ou não verificadas, o que pode amplificar críticas desatualizadas ou desinformação. Segundo um relatório da MarTechBot, mais de 60% das menções negativas amplificadas por IA provêm de conteúdos anteriores a 2023.
Este impacto estende-se também aos líderes empresariais, cujos nomes surgem frequentemente associados às respostas geradas. A ausência de informação atualizada sobre executivos — biografias, intervenções públicas ou presença mediática — deixa espaço para interpretações externas, muitas vezes incompletas. Para enfrentar este cenário, as empresas estão a investir em estratégias de visibilidade algorítmica: conteúdos estruturados para IA, atualização constante de perfis digitais e presença em meios de elevada autoridade. Cerca de 76% dos profissionais de marketing consideram essencial aparecer nas respostas de modelos como o ChatGPT, e dois terços planeiam reforçar essa presença em 2026.
🔍 A era da busca conversacional e o novo poder da narrativa algorítmica
A pesquisa conversacional está a transformar o comportamento do consumidor. Um terço dos utilizadores norte-americanos afirma confiar mais nas respostas do ChatGPT do que nas do Google, e 36% já descobriram novas marcas através da IA — com destaque para a geração Z. Esta mudança exige que as empresas deixem de comunicar apenas para humanos e passem a “treinar” indiretamente os modelos que falam sobre elas. A reputação torna-se um ativo líquido, moldado em tempo real por sistemas que interpretam o pulso informativo global.
As métricas de sucesso também estão a evoluir. As marcas começam a medir a sua presença em respostas tipo “melhores opções”, o sentimento algorítmico com que são descritas e a frequência com que surgem face à concorrência. A visibilidade já não depende apenas de palavras-chave, mas da curadoria de informação que os modelos de linguagem conseguem compreender. À medida que a IA agentiva — capaz de tomar decisões autónomas — se integra na vida quotidiana, aparecer corretamente representado nestes sistemas será tão importante como estar na primeira página do Google há uma década.
A inteligência artificial não elimina a reputação: redefine-a. As marcas que souberem falar a linguagem das máquinas dominarão a narrativa da próxima década. As que não o fizerem, ficarão fora da conversa.
